Corrijo quando meu filho escreve errado?

Para se apropriar do sistema de escrita alfabético, a criança percorre um longo percurso. Bem pequenas, atribuem sentido aos rabiscos que produzem. Gradativamente passam a perceber que esses rabiscos não podem ser considerados como escrita e passam a se utilizar de outras marcas. Utilizam indiscriminadamente números e letras, até que rejeitam o primeiro e escrevem utilizando muitas letras. Só em uma próxima etapa começam a atribuir um valor sonoro ao que querem escrever.  Nessa fase estão na hipótese silábica, na qual, a  cada sílaba corresponde  um som e portanto uma letra. Com a intervenção do professor e de fontes disponíveis em sala de aula, passam a perceber que mais letras são necessárias para formar as palavras de maneira convencional, até que finalmente conseguem fazer a correspondência letra-som como as pessoas alfabetizadas. O processo acaba aqui? Não. Agora tem início uma nova etapa, cuja construção é longa e segue até o final do ensino fundamental: a apropriação do conhecimento ortográfico.

Como vocês podem ver, a perspectiva do erro é relativa. Na fase entre 5 e 6 anos a criança erra porque pensa. Vai construindo hipóteses a respeito do sistema de escrita alfabético e, que ao serem  desestabilizadas, fazem com que caminhem para outro estado de conhecimento. Sendo assim, não faz sentido para a criança que ainda escreve silabicamente (ou seja, marca cada pedaço da palavra com uma letra apenas) soletrar a palavra ou falar ao seu lado exagerando a articulação. É só quando já constrói novos esquemas, assimilando-os aos esquemas que já possui, que ela pode evoluir.

Os pais sempre perguntam se devem corrigir os filhos e por isso é importante que entendam como eles aprendem. Na escola, são confrontados  com situações-problema em que precisam pensar , refletir sobre as suas hipóteses de escrita, e isso lhes possibilita avançar.  Se a criança pede uma informação, muitas vezes  esta deve ser dada. Assim, se a criança que já escreve alfabeticamente lhe perguntar se rosa é com s ou z dê essa resposta. Já, apontar que faltam letras, para a criança que escreve MACACO como MAO, não será produtivo, pois nesse momento ela não terá esquemas que permitam essa compreensão. O erro, nesse caso, só existe  do ponto de vista do adulto. Já outras dúvidas podem ser respondidas mostrando-se  a elas outras palavras conhecidas que a ajudem a resolver a questão. Por ex, se seu filho escreve primocomo pimo e lhe perguntar se está certo, você pode pedir a ele que observe a escrita do nomes de amigos, como BRUNO e outros semelhantes. Essas dicas serão de grande valia.

Depois de ter se apropriado do sistema alfabético de escrita, os alunos se deparam com o aprendizado da ortografia, que no caso do Português, é bem complexa. Para terem uma ideia, é possível grafar o som do S de 9 maneiras! Portanto, esse conteúdo, a partir do 2º ano, é distribuído ao longo das séries até o 5º ano e revisto durante o fundamental II. Esse trabalho é feito tanto de maneira reflexiva, como no caso das regras de contexto (R/RR, por ex.), como  propiciando a formação da imagem ortográfica visual (usos do S ou Z, por ex.) das palavras quando a memorização é exigida.

O mais importante é favorecer o entendimento da  escrita como uma função social, fazer da escola uma comunidade de leitores e escritores, porque ao escrever com um propósito e para um destinatário real, os alunos se esmeram para escrever cada vez melhor. Eles atribuem sentido ao processo de escrita e aprendem quais gêneros são mais apropriados para determinadas situações comunicativas. Ou seja, são alfabetizados numa perspectiva de letramento.

Portanto, se olharmos para trás e valorizarmos o caminho percorrido por nossos filhos, veremos que foi um caminho muito bonito, construído por aproximações sucessivas ao objeto de conhecimento, com base em muita reflexão, até a compreensão do funcionamento de um sistema de escrita alfabético.  Já, depois que aprenderam quando usar L ou U,  no final de palavras, ou S/SS, podemos sim corrigi-los quando trocam tais letras, mas não precisamos enfatizar o erro, basta pedir para que observem a escrita que fizeram, imaginem “na cabeça” como tal palavra é escrita, observem outras palavras que possam ajudar, auxiliando assim na fixação dessas letras.

Escreveu errado? Não é tão simples, concordam?

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